domingo, 31 de julho de 2016

Poética - Ana Cristina Cesar

“Por afrontamento do desejo 
insisto na maldade de escrever 
mas não sei se a deusa sobe à superfície  
ou apenas me castiga com seus uivos...”
Eu sempre tive muita vontade de ler Ana Cristina Cesar, ou, Ana Cristina C., mas, a dificuldade de encontrar seus livros, especialmente “A teus pés”, aumentava ainda mais minha curiosidade e minha vontade de ler, não somente a esta obra, mas a todos os outros escritos por ela. Pesquisava pela internet, em alguns sites e blogs literários, mas o que havia por lá era muito pouco para saciar a minha vontade de saber um pouco mais.
Sou apaixonada por poesias, desde que me conheço por gente, descobri nos poemas a magia, o enquadramento do mundo e de nossos sentimentos.
“Preciso voltar e olhar de novo aqueles dois quartos vazios.”
Fui avisada desta publicação pelo atendente de uma livraria que frequento. É claro que não podia deixar de ter a oportunidade de ler todas as suas obras publicadas. A minha alegria foi ainda maior ao perceber que, além disso, havia muito mais de Ana C. naquele livro. Em um único volume: posfácio e cronologia, desenhos e rascunhos feitos por ela que se revelaria em um belo presente a todos os leitores e fãs.
“é preciso fazer o inventário
do que restou 
e do que levaram 
apesar da grande comoção que ata
parece que ata mãos e pés
e nem desata”
A sensação durante a leitura foi a de que a vida doía em Ana C., era como se fosse, o tempo todo, um soco bem no meio do estômago, que lhe roupava o ar e desnorteava os sentidos “Os poemas são para nós uma ferida.”, difícil ficar indiferente a seus escritos e sair ileso do que se lê. É o retrato de uma época que não se passa, é a vida, é o amor, é apenas a beleza, a alegria, a tristeza e a dor e agonia de viver em palavras, versos, poemas.
 “Tarde aprendi
Bom mesmo
É dar a alma como lavada.”
Adorei a capa, o seu colorido que é a cara das décadas de 70 / 80, o título e a cor de suas folhas, delicadamente amareladas, como se quisesse passar a sensação de que o tempo havia passado. Tudo muito carinhosamente caprichado, sem perder a autenticidade da época em que foram escritos. 
São poemas, frases, cartas, fragmentos de textos, desenhos, que, passe o tempo que passar, jamais deixará de ser atuais.
“Não, a poesia não pode esperar.”
Leitura recomendada!

Sobre a escritora:

Ana Cristina Cruz Cesar, conhecida como Ana Cristina Cesar (ou Ana C (1952  - 1983), nasceu no Rio de Janeiro. Formada em letras pela PUC-Rio, mestre em Comunicação pela UFRJ e em teoria e prática de tradução literária pela Universidade de Essex, na Inglaterra, É considerada um dos principais nomes da geração mimeógrafo da década de 1970, e tem o seu nome muitas vezes vinculado ao movimento de Poesia Marginal. Participou da antologia 26 poetas hoje (1976), foi poeta, jornalista, tradutora e crítica literária. Filha do sociólogo e jornalista Waldo Aranha Lenz Cesar e de Maria Luiza Cruz. Antes mesmo de ser alfabetizada, aos seis anos de idade, ela ditava poemas para sua mãe. Começou a publicar poemas e textos de prosa poética na década de 1970 em coletâneas, revistas e jornais alternativo. Cometeu suicídio aos trinta e um anos, atirando-se pela janela do apartamento dos pais, no oitavo andar de um edifício. Armando Freitas Filho, poeta brasileiro, foi o melhor amigo de Ana Cristina Cesar, para quem ela deixou a responsabilidade de cuidar postumamente das suas publicações. O acervo pessoal da autora está sob tutela do Instituto Moreira Salles. A família fez a doação mediante a promessa dos escritos ficarem no Rio de Janeiro. Contudo, sabe-se que muitas cartas de Ana Cristina Cesar foram censuradas pela família, principalmente as recebidas do escritor Caio Fernando Abreu.

Suas Principais obras:

 Poesia

"A Teus Pés" (1982)
"Inéditos e Dispersos" (1985)
Novas Seletas (póstumo, organizado por Armando Freitas Filho)

Crítica

Literatura não é documento - (1980)
Crítica e Tradução - (1999)

Variados

Correspondência Incompleta
Escritos no Rio (póstumo, organizado por Armando Freitas Filho)
Escritos em Londres (póstumo, organizado por Armando Freitas Filho)
Antologia 26 Poetas Hoje, de Heloísa Buarque
                                               Léia Viana